quarta-feira, 15 de março de 2023

Bilhete premiado do trabalho remoto

 



Hoje eu acordei mais proativa. Entrei em uma plataforma internacional de trabalho remoto, me candidatei para alguns projetos de avaliação de redes sociais e estou aguardando ser chamada, sem muitas esperanças na verdade, porém só o fato de ter alguma coisa que possa te solicitar já dá um ânimo para levantar e fazer as coisas. Mas a esperança de que essas candidaturas venham a ocorrer é a mesma esperança de ganhar na loteria, você sabe que não vai ganhar, mas fica pensando o que faria se ganhasse, ou seja, desvia teu pensamento para coisas boas.

Recebi desta plataforma um trabalho um tanto inusitado, enviar 10 fotos sendo 8 minha e 2 com outra pessoa. Diz que o pagamento é 3 dólares por linha. Não entendi bem o que é essa linha, acredito que seja por foto, ou pode ser só 3 dólares por tudo. Enfim, conversei com meu companheiro. Ele ficou um tanto reticente, ele tem receio desses tráfegos de dados. Eu só penso em dinheiro, se for 3 dólares por foto já dá para pagar a conta de luz, se for só 3 dólares, valeu a experiência, mais um dia tentando entender essas empresas internacionais de trabalho remoto, até onde dá para realmente confiar, até onde se concretizam os trabalhos e os pagamentos, até onde vale a pena. São curiosidades de uma socióloga desempregada, uma socióloga que sempre estudou sociologia do trabalho.

Enfim, me candidatei a esse novo trabalho, confesso que li por alto os inúmeros contratos, mas deu para perceber que as fotos serão usadas por inteligência artificial, para banco de dados, treino, etc. Eu não me importo em nada em ceder minhas fotos para este fim, ainda mais me pagando. Nossos dados já são coletados diariamente em todas as redes sociais, de graça, ou melhor, nossos dados são coletados de graça e ainda temos que assistir anúncios, ou seja, dados e trabalho de graça para as grandes corporações. Dessa vez parece que vou receber alguma coisa, mas de início a questão já está ocupando minha mente, o que é muito bom para quem vem enfrentando um desemprego desde a pandemia, com trabalhos intermitentes e mal remunerados desde então.

Atualmente estou sem nenhum tipo de trabalho, desde outubro do ano passado quando terminei um trabalho de coordenadora de campanha eleitoral. Para quem não sabe, coordenar uma campanha eleitoral é um trabalho 24h por 24h, 7 por 7 dias, é extremamente extenuante em todos os aspectos. Ao fim do trabalho em outubro, ficaram ainda algumas burocracias para resolver pós campanha, o que é normal, porém já não estava mais recebendo por isso. O que eu recebia era somente promessas, que em 2023 as coisas iriam melhorar (o que já está acontecendo e eu acredito que vai melhorar cada vez mais), porém, por mais que a gente exercite a esperança, os meses vão passando e a ansiedade vai chegando cada vez maior, ali crescendo juntinho com os juros do cartão, do empréstimo, do cheque especial. E que sorte a minha de eu ter um companheiro que ainda tem acesso a crédito! Essa ansiedade mora naquele dito popular “cabeça vazia, oficina do diabo”. Ficar desempregada, dias a fio, por mais que hajam tarefas domésticas e familiares a fazer, traz sempre pensamentos de insuficiência, de fraude, de incompletude, etc. E olha que eu sou uma pessoa com uma bela autoestima, referendada por mim (risos) e pelos meus amigos, e acho que estou na melhor época da minha vida para trabalhar (farei 45 anos em breve, 45 anos de experiência, casca, sagacidade e disposição) porém o quotidiano do desemprego corrói sorrateiramente nosso espírito, e qualquer vagalume de saída dessa situação a gente se agarra para não se apagar. Então a saga do momento é essa. “Bilhetinhos” de loteria em empresas de trabalho remoto...

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