E se eu entrei na categoria de pessoas que o sistema
considera que não tem mais volta, ou seja, nunca mais conseguirão emprego?
Afinal eu sou uma forte candidata, sou mulher de 45 anos, com filho, morando em
uma cidade do interior de um país periférico. Sim, ainda possuo as vantagens de
ser branca e com graduação completa. Enfim, estou há dois dias pensando nessa
possibilidade, até como exercício mental de como é a vida de quem foi
compulsoriamente “aposentada” porém sem receber aposentadoria. Como se dá esse
cotidiano? Porque até agora meu cotidiano vem sendo procurar saídas para meu
desemprego, desde enviar currículos para minha área a ver possibilidades de
trabalhar em colheitas de tulipas na Holanda, passando por almejar uma criação
de codornas, shitake, ser influencer de algum assunto aleatório, escrever mil
projetos sociais e culturais, enfim...DE TUDO já passou na minha cabeça. Mas e
se eu simplesmente aceitasse o fato de que não há mais trabalho, como seria
acordar de manhã? Ser somente dona de casa, assistir ao Robson se virando em
mil pra tentar manter as contas (o que a longo prazo seria inviável). É esse inviável
que me faz persistir? É eu ainda acreditar em mim? É mostrar aos outros que eu
não desisti? E se eu desistir? E se o desistir for aceitar? O que isso
implicaria para a minha saúde mental? É melhor viver queimando a cabeça
diariamente com ideias, soluções, currículos, projetos, esperar que o universo
conspire a nosso favor (mesmo sabendo que o universo nem sabe que você existe)?
Ou é melhor esvaziar a mente? Tranquilizar, entregar, relaxar e ir vivendo.
Seria egoísmo meu, só ir vivendo? Privilégio eu sei que é. Enfim, dizem que é
sempre bom tentar olhar as coisas por um outro prisma. Então eu estou vendo meu
desemprego não mais como uma coisa temporária, que se eu diariamente me
esforçar para achar o caminho, em certo momento eu vou encontrar. Agora o meu
prisma é olhar o desemprego como um fato dado, não há o que fazer. C´est la vie.
Vamos ver o que essa mudança de paradigma traz. Ou seja, eu sou uma
esperançosa, pois até na aceitação da derrota eu espero alguma coisa (carinha
de palhaça).
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